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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Riot Grrrl: A Representação Feminista através de 5 Álbuns

Revolution Girl Style Now é um álbum demo lançado pela banda Bikini Kill,
 a pioneira do movimento Riot Grrrl, em 1991


Bikini Kill, Bratmobile, Sleater-Kinney, Lunachicks e 7 Year Bitch são algumas das bandas formadas inteiramente por mulheres que encabeçaram o movimento punk feminista Riot Grrrl. Desde o início da década de 90, o movimento, primordialmente propagado pelas membros da Bikini Kill: Tobi Vail e Kathleen Hanna, rapidamente se consagrou em diferentes partes do mundo. Suas ideias versavam sobre autonomia do corpo feminino, a hipocrisia de homens brancos que conseguem o que querem, a diversidade sexual, entre outros temas que têm sido politizados especialmente sob forma de música.Algumas das principais bandas se desfizeram em meados dos anos 90, porém, foi justamente por volta dessa época que no Brasil, o movimento foi aderido por algumas bandas punk/hardcore formadas  por mulheres como Builimia, Dominatrix e Kaos Klitoriano. Por volta de 2010, o movimento ganhou um novo boom  de bandas, inspiradas por seus primórdios, mas que adaptaram suas temáticas a um contexto social atual, ainda necessitado de vozes políticas femininas.Anti-corpos lança o EP Meninas Para Frente em 2012 e em 2014, o álbum Contra Ataque. Enquanto que em Seattle, o trio Childbirth lança em 2015, Women's Rights, trazendo temas feminista de forma sarcástica. Por conta da ainda relevância do rock feminino no engajamento político, listei abaixo cinco álbuns que não são muito abordados, mas que  inspiram muito ativismo riot grrrl tanto na esfera nacional quanto na internacional. 

1. Weaponry Listens to Love- Huggy Bear   (1994)




 Huggy Bear é a maior representante Riot Grrrl da Inglaterra. Com uma line-up dividida entre os dois gêneros, a banda permaneceu ativa apenas por três anos, 1991-1994, porém durante o curto tempo em que produziram discos e EPs, eles abordaram problemáticas voltadas especialmente ao público adolescente. Taking The Rough with the Smooch foi lançado pela gravadora independente e de cunho de esquerda, Kill Rock Stars, em 1993. Foi o trabalho mais comercial da banda, consagrando a faixa Her Jazz como hino feminista. O motivo o qual a banda voltou-se ao público jovem se reflete na ausência de uma cena politizada na Inglaterra. A fim de conscientizar a geração que consome o indie britânico sem nenhum tipo de ideologia, suas músicas traduziram de forma singular, temas como a obesidade, o suicídio, a automutilação e garotos que usam meninas em seu favor. ''Boy/girl revolution tease (You lied to me) '' em Her Jazz  fala sobre a opressão masculina nas cena punk da década de 90. Sob o falso pretexto de anarquia e de ser contra opressão estatal, a inserção feminina e de outras ditas minorias são subjugadas. A prioridade do movimento Riot Grrrl era eliminar a segregação de gênero, raça e sexualidade existente na cena, sobretudo nos shows.

This is the sound of a revolution                                
Post tension-realization 
This is happening without your permission
The arrival of a new renegade
Girl/boy hyper nation!

Esse é o som de uma revolução
Pós tensão-realização
Isso está acontecendo sem a sua permissão
A chegada de novos renegados
Hiper nação de garota/garoto!

No ano seguinte a banda lança Weaponry Listens to Love, em que lida melhor com temas diversificados. Enquanto o anterior focava na conscientização de um movimento político feminista, esse é composto pela sua agenda política. A sua primeira faixa Immature Adolesence fala sobre a punição violenta sob os jovens quando protestam pacificamente contra algo. 16 and Suicide retrata jovens que são institucionalizados sem alguma perspectiva de onde ir e do que fazer, acreditando que o suicídio é a resposta. Já For Insecure Offenders, a minha preferida do álbum, ainda se faz atual, pois é sobre a prática do bullying. Your sexual history means nothing destaca a ofensa sexista e homofóbica sobre a sexualidade de mulheres e homens. 
A princípio, as músicas do Huggy Bear são difíceis de destrinchar, porém, quando ganham significado é possível notar seu teor atual, uma vez que os temas extraídos dela ganharam recente projeção e alguns ainda são vistos como tabu na sociedade. 




2. Demo Tape- Cosmogonia (1998)

Somos mulheres não apenas corpos; 
Temos cérebros, não apenas seios; 
Somos mulheres não utensílios; 
Fazemos cultura não apenas filhos
( Trecho da faixa Feminilidade)

Banda brasileira formada só por mulheres, Cosmogonia esteve ativa por mais de uma década, e entre diversas formações, lançou dois álbuns demo. O de 1998 contém poucas faixas mas todas são altamente politizadas. Vida Igualitária  versa sobre uma concreta realização da igualdade de direitos e de liberdade entre homens e mulheres. TV Inculta remete à crítica apontada pela banda  As Mercenárias no álbum Cadê AS Armas de 1986, sobre a alienação de pessoas por diferentes setores, especialmente a TV.
Você não enxerga a maldade.
Daquela falsa realidade.
Que entra em seu lar pela TV
E não se parece com você.
( Trecho da faixa TV Inculta)

As outras faixas são igualmente relevantes e atuais, mostrando o potencial das brasileiras em usar a música como instrumento político. 


3. Oh sí más, más- Las Ultrasónicas (2002)




Las Ultrasónicas é um grupo de garage rock/punk formado em 1996 na Cidade do México.Seu álbum Yo fui una adolescente terrosatánica firmou a banda na cena underground mexicana. Sua música vai desde  covers do Stooges e Black Sabbath a músicas que retratam o machismo, como em Luxor y Mohawk. Nessa faixa, o cara punk se utiliza do estilo para conquistar uma garota e depois deixá-la. Em 2002, o grupo lança Oh sí más, más com letras mais engajadas, a começar pela capa do álbum. Que Grosero se tornou o grande hit das garotas, e chama atenção sobre namorados que se comportam como idiotas '' que bruto y que grosero  te perdono por que se que eres un pobre pordiosero '' '' que rude e que grosso, te perdoo porque é um pobre sujeito''; No Quiero Un Novio já implica a autonomia das próprias escolhas, enquanto Vente en Mi Boca remete à autonomia sexual assim como Bikini Kill fez em I Like Fucking. Las Ultrasónicas provou à sociedade altamente patriarcal do México, que meninas jovens podem ter a liberdade de criticar o sistema em um lugar que ocupa a décima sexta posição em taxa de violência doméstica do mundo. 



4. Total Exposure- Las Kellies (2013)


Muito pode ser dito sobre o grupo argentino Las Kellies. Com 3 álbuns lançados, as meninas já gravaram músicas em mais de 5 línguas, incluindo português. Suas músicas têm referências de vários estilos musicais. Em Total Exposure é possível identificar um pouco de samba em Post Post, uma forte influência de bandas como The Raincoats e The Slits, destaco Golden Love. A diversidade sonora do disco é relevante uma vez que temos a representação latina numa projeção internacional. Além disso, grande parte das faixas protagonizam mulheres em diferentes histórias, com intuito feminista ou não, elas se fazem importante visto que fogem  à limitação de temas cantados por mulheres, como a devoção romântica ao homem, assim como a banda L7. Em Typical Bitch é possível denotar uma resposta atual à canção Typical Girls do grupo post-punk The Slits, que décadas antes cantou sobre os estereótipos femininos; Na versão das Las Kellies a mensagem é de que as mulheres devem fugir desses lugares em busca do próprio destino. 


5. Kill The Sexist!- Pussy Riot (2012)
A banda russa de punk rock e o grupo de ativistas políticos, Pussy Riot, se tornaram um símbolo contra as políticas autoritárias do governo de Vladimir Putin. Em 10 minutos de som, as Pussy Riot libertam a sua fúria contra um governo que inibe a mulher de protestar a favor de seus direitos, um governo que as aprisionaram em um calabouço medíocre por anos. O trio que deu imagem ao grupo encapuzado, se tornou conhecido após performar a faixa mother of god, putin put! na catedral de Moscovo e serem presas por profanação. Pois bem, isso não foi suficiente para sufocar o ativismo feminista na Rússia. Pelo contrário, milhares de pessoas, incluindo artistas como Madonna, saíram nas ruas e nos palcos a favor da sua libertação. A Rússia ainda é um país de nacionalismo extremo e sexista. As meninas do Pussy Riot, hoje soltas, voltaram-se à música pop, mas ainda repleta de críticas irônicas ao poder estruturalizado na Rússia. 







Comentários

  1. Muito boa essa abordagem do movimento Riot,

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    1. Opa, só vi sua mensagem agora, mil desculpas!!! Obrigada pela contribuição , bj

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