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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: The Trouble with Angels (1966)




De acordo com um recente estudo da Universidade de comunicação e jornalismo, USC Annenberg, localizada em Los Angeles, mulheres ainda são uma minoria no mundo cinematográfico. A partir da análise de 800 filmes, que foram sucessos de bilheteria entre 2007 e 2015, pode-se concluir que a representatividade de gênero, raça, LGBT, e de deficientes está atrasada diante das mudanças sociais no plano real. Ainda observou-se que apenas 4.1% dos cineastas contratados para tais filmes eram mulheres. Sendo assim, é importante enaltecer a presença da mulher no cinema. A situação nas décadas de 40 e 50 era ainda pior. A atriz clássica de Hollywood, Ida Lupino era a pioneira da desta última. Entre seus trabalhos na nuance cinematográfica, destacam-se seus filmes Noir, e também a humanização de seus protagonistas, inclusive de homens. Ida também retratou temas tabu no cinema, como o estupro em Outrage (1950). Neste post, discorrerei sobre uma de suas obras que traz no seu corpo, um elenco 100% feminino e repleto de representatividade feminina positiva. The Trouble with Angels, ou Anjos Rebeldes (1966) conta a história de duas garotas, Mary Clancy (Hayley Mills) e Rachel Devry (June Harding) que vão criar um forte laço de amizade em um internato católico. As duas têm como passatempo predileto pregar peças nas freiras; além de fumarem cigarros e charutos escondidas no sótão e no banheiro. A reverenda da instituição é a que sempre flagra as meninas no ato e as envia, como punição, para a louça suja. Interpretada por Rosalind Russell, a reverenda não é tão severa quanto esperamos. As freiras em geral, corroboram o tom cômico do filme. Uma delas dorme profundamente o tempo inteiro, enquanto outra não percebe o quão ruim a banda das meninas soa porque tapa os ouvidos completamente com algodão.




Por trás da rebeldia das garotas, revela-se uma ausência dos pais, que quando acionados devido ao comportamento delas, demonstram uma preocupação maior com o seu status quo. Apesar da jovialidade, Mary e Rachel mostram-se cientes da repressão de suas famílias em realizar seus anseios. Embora a instituição seja reflexo do conservadorismo, é nesse espaço que as meninas buscam sua autonomia, a sororidade presente não só entre elas, como também entre as freiras é uma representação positiva uma vez que a rivalidade feminina e sua dependência em um outro alguém, normalmente um homem, têm se firmado como papéis limitativos para as mulheres. É com base na confiança, e no exemplo de outras mulheres que Rachel e Mary despertam sua autonomia, na tentativa de novos caminhos, possíveis de erros e acertos, mas que não se subordinam àqueles determinados pela sociedade patriarcal. No entanto, questiona-se a decisão de Mary em permanecer no convento. Visto que ambas garotas afirmam ser progressistas ao longo do filme, por que uma delas decide corroborar com uma instituição conservadora? Temos que tomar cuidado quando tentamos colocar alguma mulher no lugar dela. Há uma cena em que ela observa atentamente o grupo de feiras unidas, talvez a segurança que essas mulheres transmitem ao contrário do mundo a fora, altamente moralista e sexista, o qual ela poderia não estar preparada. O convento é somente formado por mulheres de diferentes realidades que vivem em harmonia entre si, um espelho muito mais benéfico do que a realidade de Mary. Seu pai, por exemplo, banca mulheres brancas e ricas e a impedia de fazer o que queria.

Da esquerda para a direita:June Harding (Rachel),Hayley Mills(Mary)
 e Rosalind Russell (Reverenda)


Ida Lupino consagra uma comédia sobre mulheres que não se baseia em estereótipos, mas que foca na sororidade entre mulheres, no seu amadurecimento e independência em relação a ao sujeito masculino, não se colocando no lugar de objeto. O filme foi rechaçado pela crítica, porém se tornou um clássico cult  entre os fãs do gênero e da cineasta. Divulgar uma obra como Anjos Rebeldes, não só apoia a atual campanha a favor de um maior reconhecimento da contribuição feminina para o mundo das artes, mas como também ajuda a romper com a normatização dos seus papéis. Além de permitir uma maior exploração de suas identidades. 






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