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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: River of No Return (1954)



Dirigido por Otto Preminger, River of No Return ou O Rio das Almas Perdidas é um filme de 1954 que merece uma análise voltada à questão dos estereótipos. Pertencente ao gênero western e ambientado na metade do século 18, a obra ainda conta com  protagonistas interpretados por Marilyn Monroe e Robert Mitchum. Enquanto Monroe encarna a cantora sensual de bares apenas frequentados por homens, Kay, Mitchum está no papel de um homem viril que assume a paternidade de seu filho somente por causa da morte de sua ex-esposa. Kay é noiva de Harry, um apostador que a promete uma vida de luxo após dizer que ganhou uma mina de ouro em um jogo de poker. Os dois embarcam numa jangada em um rio localizado em Idaho, cujo apelido dá nome ao filme, em destino à prefeitura da cidade para conseguir a posse da mina, porém, algo dá errado e eles são socorridos por Matt (Mitchum). Kay e Matt já haviam se conhecido antes quando ele e seu filho estavam em um evento em que ela performou. O seu noivo tem sede de poder e com uma arma, ameaça tomar o cavalo de Matt a fim de chegar à cidade mais rápido. Ele não se importa em deixar Kay para trás, e ela acredita que seu amante voltará em sua busca. Matt promete vingança sobre o ato de Harry e se encontra sob constante objeções da apaixonada Kay. Um sinal de fumaça no alto de uma colina indica presença de índios nativos. É importante ressaltar a racista representação de índios nativos no cinema hollywoodiano. Retratados homogeneamente como violentos, ignorantes, e inimigos dos brancos, em Rio das Almas Perdidas, eles tocam fogo na cabana de Matt, o que os leva a fugir para a cidade utilizando a jangada. Vemos Matt ensinar ao seu filho como manusear uma arma de fogo contra os inimigos, simbolizando o preconceito e a concepção de masculinidade  transmitidas de geração para geração. O ataque de índios montados em seus cavalos, com flechas e do homem branco com sua arma de fogo, protegendo a frágil mulher e criança, naturalizou a imagem deste último como o herói americano. 
Ao longo da viagem e das paradas durante a noite na floresta para descanso, observamos mais demonstrações das construções patriarcais no longa. Apesar de ficarmos deslumbrados com o talento de Marilyn para música, ao ouvi-la tocar violão e cantar, a sua imagem de símbolo sexual é forçadamente trabalhada em um contexto que os personagens estão viajando sem condições de higiene e que têm que lutar pela sua sobrevivência. A ideia de que a mulher tem de se manter feminina, e por feminina entendem-se  as concepções de aparência física e de comportamento que nos são ensinadas, é vista quando Marilyn mantém seu penteado, sua maquiagem e submissão ao personagem masculino diante de condições adversas da natureza e que testam o psicológico humano, como quando um tigre os surpreende no meio da noite.
O relacionamento entre Kay e o filho de Matt é o de uma mãe por necessidade, uma vez que se configuram papéis de gênero esperados naquela situação. O garoto fica sob os cuidados de Kay, enquanto Matt se utiliza da sua força masculina para alimentar, proteger e decidir por todos. Em uma cena, a personagem de Monroe adoece e sua vulnerabilidade é aproveitada por Matt, que tenta abusá-la. A sua resistência é espelho da imposição do seu lugar de amante como forma de agradar o homem com quem está acompanhada. 
Quando os personagens conseguem chegar na cidade, Kay encontra o seu noivo, que surpreso, não demonstra afeto. Harry não aceita a ameaça de vingança de Matt e tenta atirar nele. O seu filho acaba defendendo o pai com uma arma. Desolada, Monroe tenta carreira no bar local, mas Matt invade uma das suas apresentações e a carrega imprudentemente no seu ombro. Este fim valida a sociedade patriarcal da época, em que o homem detinha o poder ilimitado sob suas escolhas vistas como morais. A incivilidade dos índios, a submissão da mulher, a virilidade do homem branco são estereótipos reforçados no filme e que apesar disso, não o considero ruim. Sua fotografia é esplêndida, as atuações igualmente, o post em si buscou questionar as condições sociais de uma época. Não devemos deixar de assistir aos filmes de épocas passadas por apresentarem problemas sérios de racismo e sexismo. É importante olhar obras como essas sob  duas direções: a de crítica e a de fã de cinema. O que não podemos desempenhar, com espectador, é uma passividade diante de conjeturas que subjugam minorias, como é muito mais comum e naturalizado. . 



                   Marilyn Monroe poderia ter seu talento multi-artístico desenvolvido nas telas se não fosse pela propagação do sexismo em Hollywood.

O romance sujeitado entre os protagonistas de Rio das Almas Perdidas
 é mais um reflexo da cultura machista no cinema.

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