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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: El Ángel Exterminador (1962)



As obras do cineasta mexicano Luis Buñuel são notáveis pela sua proeza em despir a sociedade aristocrata. Em O Fantasma da Liberdade, de 1974, o diretor arrisca numa sátira à burguesia em uma cena em que pessoas da alta sociedade sentam em privadas, ao invés de cadeiras, durante um jantar.Suas propostas são sempre ousadas e inteligentes e assim se deu com a obra O Anjo Exterminador, filmada na década anterior. Em época de regime ditatorial franco na Espanha, locação do filme, Buñuel traz uma obra que desvela a indecência por trás daqueles que buscam o poder. Filmado em preto e branco, o filme se inicia com a estranha fuga de um servente de uma grande e luxuosa mansão. As cozinheiras também se retiram, logo, só restam aqueles que compõem a camada mais alta da sociedade espanhola. O jogo de aparências vai se revelando aos poucos com os comentários superficiais que uns fazem da vida alheia do outro. A discrição se perde quando os convidados se veem presos à mansão. Sem muito esforço, eles permanecem por lá e alguns adormecem. Os anfitriões da festa começam a se sentir incomodados, e o elegante baile de máscaras dá lugar a um festim diabólico.




Quando se dão conta que estão sem saída, um casal decide se matar juntos, e a histeria se dissemina rapidamente. Horas se tornam dias, e o surrealismo, outra marca do diretor, encaixa perfeitamente nos delírios daqueles que prezam  uma imagem de sanidade. As ovelhas e o urso que fariam parte de uma atração após o jantar correm livres pela mansão, enquanto as visitas andam de um lado para o outro e é entre eles que a selvageria se desenrola. 
 Eles só conseguem sair após a repetição de um sequência de atos, revelando a crítica de Buñuel  à estagnação e a conformidade dos que obtêm o poder,sendo assim, a saída da casa não simboliza o fim de uma alienação burguesa. Uma outra camada da sociedade que também estava sob o poder da ideologia fascista era a igreja católica, que aparece no fim do filme como o novo local do qual as pessoas não conseguem se libertar. As ovelhas reaparecem como analogia àquelas que representam um povo sem instrução e dependentes do sistema para sustentá-las presentes em Revolução dos Bichos do escritor George Orwell.
Dessa forma, Luis Buñuel se tornou meu diretor favorito não só por ser preciso e inteligente em suas críticas, mas também por saber inovar dentro das mesmas temáticas que trabalhou ao longo de sua carreira. 



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