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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Cinema e a Segunda Guerra Mundial: 4 Filmes com Protagonismo Feminino

Quando a indústria cinematográfica aposta em filmes que retratam as Grandes Guerras, na maioria das vezes contam suas histórias  a partir de um protagonismo masculino, sendo o homem o grande herói e a presença feminina ofuscada. O Resgate do Soldado Ryan, A Lista de Schindler, Operação Valquíria são alguns exemplos de filmes que corroboram tal ideia, não retirando a grandeza que representam. Com intuito de representar o espaço feminino na Segunda Guerra, selecionei 4 filmes que trazem protagonistas mulheres em diferentes narrativas durante este período. 



Hiroshima Mon Amour 




Além de trazer a renomada diretora francesa Marguerite Duras como roteirista do filme, ele conta com um casal de protagonista, mas é a voz feminina que se potencializa no decorrer do longa. Apresentada como Ela, a personagem traz consigo em um tempo futuro, feridas irreparáveis dos horrores que sofreu durante a Segunda Guerra. O filme de 1959 traz Emmanuelle Riva no papel de uma mulher que por muito tempo teve de mascarar a sua dor para seguir em frente mas que revela sua vulnerabilidade ao se reconhecer no japonês Ele. O filme não é tanto sobre amor, e sim que quando o assunto é Guerras, só aqueles que a presenciaram são capazes de entender a imensidão do horror que os perseguem mesmo após elas ocorrerem. A questão do filme é o tempo, e Ela encontra-se no purgatório entre seu passado e presente. Humilhada por ter se relacionado com um alemão durante a a ocupação francesa, mais adiante ela intercalaria sua tortura a das vítimas de Hiroshima. Ele insiste em contradizê-la ao dizer que presenciou a tragédia, uma vez que é japonês e esteve lá. Porém, o casal precisa se separar pois Ela tem que voltar ao seu trabalho na Europa. A protagonista encontrou alguém compatível em sua dor e ainda assim reúne forças para seguir em frente.No fim, nota-se que há memórias que se desvanecem com o tempo, mas há outras que nos martirizarão e teremos que criar barreiras que as impedirão temporariamente de nos aterrorizar. A profundidade psicológica que se encontra na protagonista a torna uma das bem mais construídas numa indústria que prioriza uma representação superficial da mulher.



The Devil's Arithmetic  



Outro filme com uma mulher na direção, Donna Deitch, Matemática do Diabo (1999) traz o horror do holocausto focado na realidade das mulheres do campo de concentração. Apesar de ser um filme inicialmente voltado ao público adolescente, o conteúdo gráfico é impactante assim como a violência psicológica. Hannah (Kirsten Dust) é uma  adolescente judia que se desinteressa pelas tradições e fé da sua família. Porém, o quadro muda quando ela é magicamente transportada para a época da supremacia nazista e percebe o porquê da sua família se conectar tanto a costumes passados. Hannah, ao contrário das mulheres que conhece no campo que é conduzida, sabe que a promessa nazista aos judeus presentes é uma farsa. Desse modo, a protagonista tentará proteger a todo custo a vida daquelas mulheres. Sua amizade com outra judia, Rivkah (Brittany Murphy) é um exemplo muito honesto de sororidade feminina. O que se nota é que a solidariedade entre as mulheres era algo muito forte e que cada uma dava o máximo de si para se proteger e também as outras. No entanto, não é possível romantizar a realidade de um povo que ainda traz consigo o horror daquele período. Hannah não consegue alterar o destino de todos e em meio as torturas que presencia, tenta amenizá-las com suas histórias da vida real. No fim, a personagem acorda da sua fantasia e se dá conta do quão é importante valorizar as nossas raízes.  


Le Soldatesse  


Também conhecido como Mulheres no Front, o filme de 1965 conta a história de 15 prostitutas que são transportadas em um caminhão a destino de um bordel italiano durante a Segunda Guerra. O longa traz a presença ilustre da musa da Nouvelle Vague, Anna Karina. Seu humor ácido e liderança destacam-se durante o filme. Funcionando como uma crítica ao regime político do ditador Mussolini, a viagem  em si simboliza uma metáfora para a guerra uma vez que há soldados vigiando as passageiras e os ataques que ocorrem durante o percurso resultaram nas mortes de algumas delas. Três dos soldados representam diferentes faces da guerra. Dois deles se humanizam com a realidade daquelas mulheres pobres e sem futuro promissor enquanto o terceiro encontra-se convicto da necessidade dela. No entanto, o destaque do filme se dá na solidariedade e autonomia das mulheres a bordo. Por mais que a prostituição fosse o caminho mais viável para elas naquele momento, elas simbolizam um instante de paz em meio ao caos. 


 Zwartboek



Com o título português de A Espiã, a obra alemã de 2006 talvez seja, entre os filmes da lista, o que mais trabalha diferentes nuances da protagonista feminina. Carice van Houten  interpreta a ex-cantora judia Rachel Stein que se junta a uma facção holandesa contra o regime alemão após ver sua família ser executada por membros da SS. O filme de Paul Verhoeven registra os conflitos existentes entre a Holanda e Alemanha. Apesar de fatos não verídicos, a obra é exemplar ao deixar subentendido as questões de ódio entre os povos que ainda se faz atual. Rachel retorna à sua carreira como cantora, mas dessa vez sob o nome de Ellis de Vries a fim de omitir sua perigosa identidade. Sua missão é a de seduzir o oficial alemão Ludwig Müntze para conseguir libertar prisioneiros da resistência alemã. Porém, ela e o oficial acabam se apaixonando e se torna mais difícil de convencer seus companheiros de que ela estava do lado deles. Desse modo, a desconfiança torna-se o movedor da trama e várias reviravoltas ocorrem. Apesar disso, o filme consegue manter-se coerente e a cada esquema nos impressionamos com a grandeza de Ellis de Vries. Sua vontade de lutar contra o opressor se mantém intacta mesmo com a traição daqueles que acreditava ser seus aliados. Müntze revela-se um oficial humanizado ao contrário do seu colega de gabinete que descobre os planos de Ellis e a humilha de diversas formas. Ellis ergue-se mais uma vez e mostra-se ser mais íntegra do que os personagens masculinos do filme, consegue provar sua inocência e faz justiça em nome de vários judeus que foram roubados e executados a partir de um livro de um dos seus inimigos. 

Comentários

  1. Sem dúvida tem incrívels histórias, amei muito. Há grandes filmes com bons diretores como Christopher Nolan que consegue chegar ao êxito graças ao seu esforço, tem feito excelentes trabalhos que se notam desde suas primeiras produções. Dunkirk soma a lista dos seus êxitos, realmente é um filme que emociona ao espectador, simplesmente é um dos melhores filmes de guerra. Não tem dúvida nenhuma que o seu trabalho, junto com todo o elenco deu como resultado um filme inesquecível.

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