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Larissa Oliveira
Sergipana e professora bilíngue, admira os mais diversos tipos de arte e já teve seu momento Twin Peaks, além de epifania ao ler o romance que dá nome a este blog, A Redoma de Vidro de Sylvia Plath. Este Blog nasceu em 2014 e é dedicado a críticas de filmes, livros, séries e música, sendo que as dos três primeiros contêm spoilers. Boa leitura!

Crítica: Despues de Lúcia (2012)

 

Se uma palavra pudesse resumir Depois de Lúcia ela seria agonizante. A proposta do diretor Michel Franco é a de explorar exaustivamente o tema bullying. Alejandra e seu pai Roberto mudam-se para a cidade do México após a morte da sua esposa Lúcia. O luto afeta profundamente a vida de ambos. Por um lado, Roberto sofre para se adaptar e se frustra facilmente no seu emprego. Por outro, Alejandra passa a frequentar uma nova escola e se enturma num grupo de amigos com facilidade.Porém, a relação pai e filha se torna distante o suficiente para o pai não ter ciência do que estaria pra acontecer com sua filha. Alejandra é uma garota ingênua, e logo se torna a isca perfeita para as práticas desmoralizantes de seus amigos. 
Em uma viagem com a turma, Alejandra se sente atraída pelo seu amigo José e topa gravar o ato sexual. No entanto, o vídeo se espalha pela internet e ela passa a ser hostilizada na escola. Há de se questionar o porquê de acharmos essa consequência  natural. Quem vaza o vídeo nunca é culpado, muitas vezes é tido como herói, pois a sociedade espera que o homem explore a sua sexualidade e que a mulher a iniba. A passividade que Alejandra reage ao acontecimento contraria o espectador, mas que voz a garota  teria num caso assim?. Mesmo que ela soubesse da gravação, sob nenhuma condição ela merecia ter sua sexualidade exposta.


E é assim que o diretor explora a reação do espectador com as cenas de violência  arrastadas, o que talvez despertou o nosso desejo de um desfecho justo e nele o diretor nos desafia novamente. A proporção  em que chega o bullying é mais perceptível na aparência  da protagonista do que no seu psicológico. Em casa, ela ainda é amável com o pai e faz o jantar. O motivo de Alejandra não relatar o problema ao pai é o que ocorre constantemente com as vítimas de bullying. O medo de contar é  acrescentado ao descaso de muitas escolas ainda em relação a esse assunto.
Quando a turma parte em uma excursão escolar, a negligência dos responsáveis da instituição se torna evidente. Os jovens bebem, fumam e transam nas dependências do hotel e um grupo se aproveita para estuprá-la mais de uma vez no banheiro. Ao anoitecer, o grupo e Alejandra, mesmo violentada, vão para um luau na praia. Imóvel na areia enquanto seus colegas se divertem, Alejandra parecia exausta e sem forças para suportar a maldade deles. Após empurrarem-na no mar, ela desaparece, dando ao espectador finalmente a expectativa de descoberta e consequente punição dos jovens.
Contudo, Franco  nos afronta com a impossibilidade de punição dos jovens segundo a lei mexicana, pois são de menor. Não ficando satisfeito, o pai de Alejandra resolve se vingar pessoalmente de José. Nem todos os casos de bullying/estupro terão um fim assim;  é mais provável que se um dia a vítima não tiver mais contato com seus agressores, seu dano psicológico permaneça. A inércia das instituições da sociedade responsáveis pela educação e justiça precisa ser alterada por meio  de ações preventivas e não esperar o prejuízo ser efetivado primeiramente.








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